São Paulo – “Adeus, adeus, adeus, demitidos. Depressão e desmaio no Itaú e, quem diria, pro olho da rua o bancário iria.” Foi com este cântico que um “padre” arrebanhou os funcionários do Ceic (Centro Empresarial Itaú Conceição) e deu início ao litúrgico protesto organizado pelo Sindicato – uma missa em homenagem aos 18.843 dispensados desde a fusão do Itaú com o Unibanco, em 2008.
O clima frio e chuvoso desta segunda 27 combinou com o tema sombrio da manifestação, mas não foi suficiente para espantar os trabalhadores, inseguros e indignados por causa das 7.935 demissões somente em 2012.
Presente ao ato, um bancário do setor patrimônio, que não quis se identificar por temer represálias, acredita que as demissões causadas pela fusão são uma injustiça. “Até funcionários com boas avaliações estão sendo mandados embora, e tudo isso por causa da redução de custos em nome do lucro do banco.”
A “missa”, na área externa do Ceic, começou com a entrada do “padre” e “coroinha”. Após uma breve “benção”, a cerimônia foi iniciada e se desenvolveu seguindo um roteiro previamente distribuído para os presentes. Além da leitura da “homilia”, houve uma “benção” individual.
No sermão, o padre lembrou que a sociedade brasileira quer ser tratada com respeito pelos bancos. “Em sua propaganda, o slogan do Itaú diz ‘Isso muda o mundo’, mas o que a sociedade brasileira quer ver mudar é a ganância dos bancos que, apesar de lucrarem com altos juros e tarifas cobrados da sua clientela, ainda lucram em cima da exploração dos trabalhadores do setor.”
Lucros x Demissão – O dirigente sindical Sérgio Francisco ressaltou que em 2008 o Itaú e o Unibanco somavam 108.458 bancários. Cinco anos após a fusão, restaram 89.615. “É incrível como um banco que lucrou mais de R$ 14 bilhões também é o banco que mais demitiu e mais reduziu postos de trabalho.”
A diretora do Sindicato Adriana Magalhães ressaltou que a “missa campal” foi uma atividade lúdica para questionar a gestão da instituição e as demissões que, segundo ela, ocorrem para satisfazer acionistas e aumentar bônus dos administradores. “O Itaú é um dos 10 maiores bancos do mundo, mas apresenta problemas sérios de gestão quando terceiriza áreas estratégicas e demite funcionários. Enquanto outros setores da sociedade estão gerando empregos, como é o caso da indústria metalúrgica ou têxtil, ou mesmo os bancos públicos, o Itaú vem na contramão e reduz milhares de postos, ocasionando em sobrecarga de trabalho ao funcionários remanescentes”, afirmou.
Antes da “missa”, os representantes dos trabalhadores desfilaram com cruzes e fizeram panfletagem na porta do Ceic para chamar os funcionários para a “missa” do início da tarde.
Luta em nível nacional – O ato é parte do Dia Nacional de Luta dos Trabalhadores do Itaú, realizado nas principais capitais do país.
Além das demissões, outras questões foram destacadas no protesto, como o plano de saúde, que, segundo denúncias dos funcionários, está piorando por conta do descredenciamento de diversas clínicas, e a bolsa de estudo oferecida aos bancários. O movimento sindical reivindica que ela valha para uma segunda graduação ou um mestrado ou doutorado.
“Diante do Dia Nacional de Luta, esperamos que o Itaú repense sua estratégia de gestão e priorize a valorização dos seus funcionários, que são os responsáveis pelos lucros astronômicos do banco”, anseia o dirigente Sérgio Francisco.