A Contraf-CUT lançou nesta segunda-feira (17) uma edição especial do Jornal dos Bancários, alusivo ao mês da Consciência Negra. O material reforça a campanha permanente da CUT sob o slogan “Basta de racismo no trabalho e na vida”, como forma de mobilizar o conjunto dos sindicatos para a importância de conquistar igualdade racial.
A publicação pode ser acessada na seção de Publicações do site da Contraf-CUT e também se encontra na seção de Download na área restrita do site para fins de impressão gráfica para distribuição aos bancários. Também está disponível uma versão online para divulgação eletrônica.
II Censo confirma discriminação racial
O material traz alguns dados do II Censo da Diversidade, realizado entre 17 de março e 9 de maio de 2014, com a participação de 187.411 bancários, de 18 instituições financeiras, o que representa 40,8% da categoria.
Os números do II Censo, divulgados no último dia 3 de novembro pela Febraban para a Contraf-CUT, durante reunião da Mesa Temática de Igualdades de Oportunidades, ainda estão sendo analisados, mas comprovam que negros e negras continuam sendo vítimas do racismo nos bancos e da carência de políticas afirmativas para garantir igualdade na contratação, na remuneração e na ascensão profissional.
Houve um pequeno crescimento da população negra nos bancos. Considerando pretos e pardos, passou de 19% para 24,7% entre 2008 e 2014. No entanto, essa presença é ainda inferior à participação dos negros na população brasileira, que é de 51%, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE.
Esse perfil eminentemente branco da categoria bancária (74,6%) não pode ser considerado “normal” em um setor que almeja ser moderno e inovador. Ademais, o Brasil ratificou a Convenção da ONU sobre eliminação de todas as formas de discriminação, em 1966, e aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, em 2010.
A diferença de renda média mensal entre negros e brancos continua acentuada nos bancos. Conforme dados do II Censo, essa diferença foi reduzida de 15,9% para 12,7% entre 2008 e 2014. Entretanto, quando observamos as regiões do país, verificamos uma distorção ainda maior nos rendimentos. Essa diferença chega a atingir 18,8% na região Sudeste.
Quando se compara a remuneração das mulheres negras com a dos homens brancos, as diferenças são ainda maiores. Em média, as mulheres negras recebem 31,8% a menos que os homens brancos e na região sudeste a diferença é ainda maior, de 38%.
Invisibilidade negra não pode continuar nos bancos
“A invisibilidade dos negros e das negras no sistema financeiro é uma triste realidade, que foi constatada no II Censo, e o mais lamentável é que os bancos sequer apresentaram um plano de ação para corrigir as distorções existentes e traçar um caminho rumo à igualdade racial”, afirma a secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, Andréa Vasconcelos.
“Conclamamos todos os sindicatos a desenvolver atividades na categoria, bem como fortalecer as iniciativas do movimento negro nos estados e regiões, a fim de romper com as barreiras estruturais do racismo, que têm impedido a construção de uma sociedade efetivamente igualitária”, orienta a dirigente sindical.
Basta de racismo no trabalho e na vida
Conforme Andréa, “passados 126 anos da abolição formal da escravatura no Brasil, detectamos que as condições de equidade e justiça não contemplaram a população negra, que segue marginalizada e discriminada no mercado de trabalho, nos meios de comunicação de massa, na educação, na saúde, entre tantas outras segregações”.
“O racismo continua a se manifestar nas formas mais cruéis e perversas, como na violência letal da juventude negra, a segregação urbana, a exclusão dos negros e das negras dos espaços de poder e decisão política. A informalidade, a precarização, a flexibilização e a terceirização do trabalho reduzem drasticamente os direitos trabalhistas e sociais”, denuncia.
Queremos ações afirmativas pela igualdade racial nos bancos
A Febraban insiste em atribuir as desigualdades existentes no setor financeiro apenas aos fatores sociais, isentando os bancos de suas responsabilidades. Não é à toa que ao divulgar o resultado do II Censo a Febraban não apresentou um Plano de Ação com medidas concretas para corrigir as distorções existentes.
“Para garantir igualdade racial, é preciso que os bancos implementem ações afirmativas de inserção para a população negra, começando com a destinação de cotas de contratação em todos os bancos. É também inaceitável que não haja planos de cargos e salários, com regras objetivas e transparentes em todos os bancos, especialmente nos privados”, enfatiza Andréa.
“Os negros e as negras têm o direito de ocupar todas as funções, a fim de sair da invisibilidade em que se encontram na maioria das agências. É tempo de promover igualdade no trabalho e na vida”, conclui a diretora da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT