POR: JACY AFONSO
O início da trajetória do Sindicato dos Bancários do Acre acontece ao mesmo tempo em que se fortaleciam as lutas amazônicas, lideradas por Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e dirigente da CUT, que com seu carisma e determinação chama a atenção para o latifúndio e seu aspecto destrutivo e violento para com a natureza e com os povos da floresta.
Os bancários do Acre fazem um caminho diferenciado de organização. Iniciam sua atuação em concomitância com as lutas sociais, extremamente importantes para o Estado e de referência para o país. A fundação da CUT em 1983, que liderou, juntamente com outras organizações, um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil – a Campanha pelas eleições diretas – fortaleceu a organização sindical e popular da Amazônia, tornando Chico Mendes a maior liderança sindical da região, com destaque nacional e internacional. Essa liderança, enraizada nos princípios cutistas, aglutinava os movimentos sociais mais importantes, dentre os quais estava o Sindicato dos Bancários do Acre, que teve sua origem a partir da Associação dos Profissionais Empregados em Estabelecimentos Bancários do Estado do Acre, criada em 1984.
O surgimento da organização bancária no Acre ocorreu exatamente no ápice das grandes lutas nacionais: a luta pelas eleições diretas, o ataque destruidor às estatais, a primeira greve nacional dos funcionários do Banco do Brasil e, especificamente, o ataque destruidor dos bancos estaduais. A campanha “O Banacre é nosso” ganhou as ruas, fortalecida pelas ações em defesa dos trabalhadores rurais, seringueiros e ambientalistas que assumiam a defesa das instituições estatais, contra os grandes conglomerados financeiros privados e o neoliberalismo.
Em 1987 é criado o Sindicato dos Bancários de Rondônia e a luta amplia sua articulação e ganha maior destaque quando em 1988, no 3º Congresso Nacional da CUT, Chico Mendes apresenta a tese “Em Defesa dos Povos da Floresta”.
Inspirados no documento organizado por Chico Mendes, o Sindicato dos Bancários de Rondônia redigiram o manifesto “Em Defesa dos Bancários da Floresta” que impulsionou a unificação das lutas e a criação da Federação da Região Centro/Norte composta então pelos estados do Acre, Rondônia, mato Grosso e Brasília, com sede em Fortaleza. Essa primeira organização foi fundamental para a ampliação organizativa e o surgimento, então, da Fetec-CUT/CN, que atualmente representa os bancários dos Estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, Roraima, Distrito Federal, Pará, Amapá, da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – RIDE e das cidades de Rondonópolis(MT) e Região Sul, de Dourados(MS) e Região, de Barra do Garças(MT) e Região e de Campo Grande (MS) e Região. A Fetec-CUT/CN é filiada à Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf-CUT), presidida atualmente por Carlos Cordeiro, incansável e competente companheiro na atuação em prol do fortalecimento das lutas nacionais.
Os bancários em geral tiveram pouca representatividade na fundação da CUT. E como no princípio o Sindicato dos Bancários do Acre não era filiado à CUT não estava articulado nacionalmente com a própria categoria do ramo financeiro. Mas, percebendo a importância da união para a construção do Contrato Coletivo Nacional, prerrogativa da categoria bancária que unifica a luta das instituições financeiras públicas e privadas do país. Tenho o maior orgulho em saber que eu, funcionário do Banco do Brasil de Brasília, recebo o mesmo valor em tíquete refeição do bancário do setor privado que trabalha no município de Cruzeiro do Sul, no Acre.
O assassinato de Chico Mendes mobilizou o Brasil todo. Sua ausência apontou a necessidade de outras gerações de líderes assumirem a luta dos trabalhadores na região. Tarefa assumida por Jorge Viana que passa a lutar também ao lado dos bancários contra o extermínio do sistema financeiro no Acre e no Brasil.
Essa liderança também foi assumida com firmeza e determinação por Sergio Taboada, Maria Antônia e por Perpétua Almeida. Esta teve atuação destacada na Câmara Federal em defesa dos direitos dos trabalhadores e agora pleiteia uma vaga ao Senado. Sua eleição é fundamental para a continuidade do trabalho. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, precisamos ter e despertar consciência de que as instituições sindicais não tem papel de fazer política partidária, mas tem o dever de fazer atividade política. Jamais podemos desconsiderar que estamos às portas das eleições 2014 e projetos específicos se apresentam. Não podemos esquecer que somos trabalhadoras e trabalhadores e são nossos projetos que estão em jogo. Não podemos apoiar candidatos e candidatas que pregam a independência do Banco Central propiciando a intervenção direta dos banqueiros e sua ganância. Não podemos apoiar políticas de desindexação da economia e de desvalorização do salário mínimo, por exemplo.
Enfim, o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Acre está em momento de justa festa por seus 30 anos. E, com certeza tem pela frente muitos outros 30 anos de luta, resistência e construção de políticas que defendam e ampliem direitos de bancárias e bancários, mantendo a tradição de atuação por uma sociedade mais justa e digna para todas as trabalhadoras e todos os trabalhadores.