Por William Mendes
Conforme nos comprometemos recentemente, os representantes eleitos pelo patrocinador Corpo Social vão expor suas opiniões a respeito dos boletins emitidos pelo patrocinador Banco do Brasil sobre a atual situação de desequilíbrio do Plano de Associados da Caixa de Assistência dos Funcionários do BB. O déficit atual da Cassi, evidenciado em 2014 por não ter havido nenhuma receita extraordinária, como ocorreu nos anos anteriores, levou as partes a abrirem negociações para a busca de soluções mais perenes sobre o modelo assistencial da entidade conjugado com as formas de custeio.
Nesta edição do boletim de 18 de maio, o BB procura enfocar dois processos finalísticos da gestão da Cassi, regulação e negociação, que agregados ao processo de assistência compõem o tripé de gestão de qualquer sistema de serviços de saúde. Antes de abordar as questões tratadas no referido documento, é importante registrar aquilo que é do conhecimento de muitos, ou seja, a crise no setor permeia os sistemas de saúde suplementar e saúde pública do Brasil, e também grande parte do mundo ocidental.
As principais causas da crise no setor já estão sendo debatidas há bastante tempo. São elas: envelhecimento da população, transição epidemiológica, incorporação acrítica de tecnologias, medicalização da sociedade, processo de urbanização e, no Brasil, também a grave questão da judicialização indiscriminada, mesmo antes da tentativa de recursos administrativos com os planos, principalmente os de autogestão. Portanto, não é uma situação exclusiva da Cassi e nem mesmo do Brasil. Todavia, ao se pensar em estratégias de enfrentamento dessas chamadas “forças expansivas de custos”, é necessário adotar medidas estruturantes e não apenas paliativas, como tem sido comum principalmente por parte de gestores que pouco entendem da dinâmica complexa de funcionamento do setor.
A organização dos serviços de saúde se manteve por muitos anos privilegiando a concentração de capital em detrimento ao atendimento das mudanças sociais, que se refletem nos condicionantes e determinantes de saúde da população.
Tal cenário demanda investimentos cada vez mais vultosos em saúde. Entretanto, os sistemas e serviços de saúde atualmente disponíveis não estão preparados para essa demanda, bem como os profissionais de saúde ainda não apresentam formação voltada para atendimento das múltiplas necessidades de saúde decorrentes desse cenário.
Diante dos reflexos da chamada sociedade contemporânea, países em desenvolvimento, como por exemplo o Brasil, que ainda devem lidar com alta incidência de doenças infectocontagiosas e altos índices de eventos de trauma como acidentes de trânsito e atendimentos oriundos da violência urbana, convivem com tripla carga de doenças, o que demanda investimentos ainda mais amplos.
Diante desse cenário, a prioridade é a reorganização do sistema assistencial, com a adoção de uma forte atenção primária e a estruturação de uma rede de qualidade referenciada para atender tanto às demandas de eventos imediatos quanto aos de adoecimentos crônicos. Adicionalmente são necessárias estratégias competentes e modernas de regulação e de negociação.
Conscientes dessas necessidades na gestão de serviços de saúde para o conjunto dos participantes da Caixa de Assistência, os Diretores Eleitos elaboraram um projeto, inclusive com acompanhamento do patrocinador Banco do Brasil, através de área interna da Cassi, aperfeiçoar o Sistema de Serviços de Saúde da entidade. O projeto já é de conhecimento do banco e contém ações relacionadas aos referidos macroprocessos, bem como ações de suporte à gestão, em especial as de organização das informações.
Programa de Excelência no Relacionamento – são iniciativas estratégicas propostas pelos eleitos, entregues ao Banco do Brasil em dezembro, que têm cinco eixos estruturantes:
1- Aperfeiçoamento dos mecanismos de regulação
2- Gestão da rede de prestadores
3- Acesso qualificado através do Sistema Integrado de Saúde
4- Gestão integrada de informações de estudos estatísticos e atuariais
5- Aperfeiçoamento dos processos orientados ao Sistema de Saúde Cassi
Como as questões relacionadas a organização do modelo assistencial da Cassi já foram debatidas em informes anteriores nos boletins dos eleitos, vamos nos ater neste momento mais especificamente aos aspectos da negociação, regulação e gestão da informação ou do conhecimento, insumo estratégico fundamental para a evolução das demais ações.
No boletim do banco de 18 de maio, o Diretor de Relações com Funcionários e Entidades Patrocinadas destaca alguns indicadores de utilização, que no seu entendimento, comprovam a necessidade de aperfeiçoamento da gestão. Inicialmente, é necessário que tenhamos cuidado na análise desses dados, pois a forma de apuração, a segregação das informações por faixa etária e outras variáveis como, por exemplo, utilizar base contábil para interpretar indicadores assistenciais, exige um conhecimento amplo de fatores e áreas do conhecimento, como epidemiologia, bioestatística, saúde coletiva, dentre outros fatores que possuem uma alta correlação com o tema, não à toa que os eleitos estão o tempo todo consultando as equipes técnicas da Cassi para contribuir nos debates acerca d os rumos da nossa Caixa de Assistência.
De outro lado, ao tratar especificamente de negociação e regulação, o boletim aborda questões e propostas que também já estão contempladas no projeto dos eleitos, o que é bom porque mostra que há caminhos e consensos a respeito de soluções para a sustentabilidade da Cassi, sem perda de direitos para os associados. Portanto, a inspiração do BB não tem originalidade exclusiva, uma vez que há algum tempo seus representantes tem conhecimento do conteúdo do projeto dos eleitos. Tudo, mas tudo mesmo, que aparece neste boletim e que tem pertinência técnica, já foi objeto de discussão e de proposições internas na atual governança da Cassi. Aliás, algumas ações e processos já poderiam estar em estágios bem avançados se não fosse uma certa burocracia cotidiana de áreas afetas ao Banco em criar dificuldades e obstáculos para sua plena execução.
Por fim, em relação a gestão do conhecimento, que é o resultado do uso racional e inteligente das informações e dados disponíveis na instituição e fruto de um sistema eficaz integrado por pessoas competentes e criativas (inovação), máquinas, softwares e processos eficientes, há muito que avançar e a gestão do conhecimento é peça fundamental para a Cassi na condução desse novo caminho. Também estão previstos no projeto eixos estruturantes na gestão de conhecimento.
Apesar do grande investimento em tecnologia nos últimos anos, a Cassi deixou para trás a obrigação de evoluir na geração de conhecimento no que tange às áreas de Regulação, Negociação e Saúde. A ênfase tem sido o foco em processos operacionais e burocráticos das áreas meio que pouco contribuem para a construção de soluções e potencialização dos resultados. Como exemplo, dispomos de um banco de dados, porém ele está estruturado na lógica de pagamento, o que já evidencia um limite, mas que mesmo assim seria muito útil se não fosse o pouco conhecimento para estruturá-lo em informação de maneira que possa servir à gestão dos negócios da Cassi.
Enfim, o momento é de conjugar a solução da questão mais imediata do déficit da Cassi, porque consome reservas, e partir para o trabalho conjunto da implantação do projeto que aperfeiçoa o modelo assistencial da Cassi e sua missão de cuidar do conjunto dos associados e seus dependentes com Atenção Integral à Saúde, através dos serviços próprios nas CliniCassis, que contêm as equipes de família e realizam atenção primária e mapas epidemiológicos da população local, e organizam as Redes Referenciadas de especialidades.
William Mendes, diretor de Saúde e Rede de Atendimento