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Para o presidente Edmar Batistela, o legado construído pelo movimento sindical dos bancários, desde década 1930, trouxe muitos avanços significativos para a categoria.

Bancários comemoram hoje data alusiva e esperam valorização dos patrões

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MANOEL FAÇANHA

Uma categoria com mais de dois séculos de história no país está em festa neste domingo (28). Estamos nos referindo à categoria bancária, uma das mais importantes da economia brasileira, hoje com quase 500 mil trabalhadores espalhado no território nacional. Porém, para entender um pouco da história é necessário explicar que o primeiro banco criado no país foi justamente o Banco do Brasil. A instituição no país foi criada ainda na época do Império Português, por Alvará de 12 de outubro de 1808, pelo então Príncipe-regente Dom João de Bragança (futuro Rei Dom João VI de Portugal), atendendo uma sugestão do Conde de Linhares, Rodrigo de Sousa Coutinho, num conjunto de ações que visavam a criação de indústrias manufatureiras no Brasil, incluindo isenções de impostos para importação de matérias-primas e de exportação de produtos industrializados.

Solenidade de inauguração da agência do Banco do Brasil, localizada a Rua Epaminondas Jácome, em 1928.
Solenidade de inauguração da agência do BB, localizada a Rua Epaminondas Jácome, em 1928.

No território acreano, a primeira unidade do Banco do Brasil era instalada um ano antes da crise de 1929, fato relacionado à quebra da Bolsa de Valores de Nova York, quando o Acre era então território Federal da União. A primeira agência foi instalada a Rua Epaminondas Jácome, centro de Rio Branco. O governador da época, Hugo Carneiro, otimista com a chegada da instituição financeira, prestigiou à solenidade de inauguração.

 

 

 

 

Quase duas décadas depois, em 1943, a cidade de Rio Branco ganharia outra instituição bancária, agora o Banco de Crédito da Borracha, que anos depois passaria a se chamar Banco da Amazônia.foto: Araújo fotografia
Em 1943, a cidade de Rio Branco ganharia outra instituição bancária, agora o Banco de Crédito da Borracha, que anos depois passaria a se chamar Banco da Amazônia.foto: Araújo fotografia

Quase duas décadas depois, em 1943, a cidade de Rio Branco ganharia outra instituição bancária, agora o Banco de Crédito da Borracha, que anos depois passaria a se chamar Banco da Amazônia. A instituição tinha como objetivo fomentar a produção de borracha na região para ajudar as forças aliadas no front diante dos alemães e japoneses na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

Construção do prédio do Banacre, na década de 1970.
Construção do prédio do Banacre, na década de 1970.

Com o discurso de fomentar a política econômica local, nascia em 1962 o Banco do Estado do Acre (Banacre). A instituição, que chegou a registrar em seu quadro funcional mais de 1,5 mil bancários, acabou não resistindo aos desmandos administrativos e a onda do neoliberalismo imposta pelo governo Fernando Henrique Cardoso e fechou as portas no apagar dos anos 1990.

Primeira unidade da Caixa Econômica Federal no Acre, na rua Benjamin Constant, centro.
A imagem da primeira unidade da Caixa Econômica Federal no Acre, na rua Benjamin Constant, centro.

Fundada em 12 de janeiro de 1861, por Dom Pedro II, a Caixa Econômica, empresa que sempre teve como propósito incentivar a poupança e conceder empréstimos, chegaria em solo acreano apenas em 1971, com a
sua primeira unidade funcionando na Rua Benjamin Constant.

O Banco Itaú chegou no Acre na década no ano de 1975.
O Banco Itaú chegou no Acre na década no ano de 1975.

Mas não foi somente os bancos oficiais que resolveram instalar suas unidades nesta parte da Amazônia Ocidental. O setor privado também colocou algumas de suas unidades neste espaço do Brasil, como foi o caso de Bradesco, Itaú, Banco Real, Bamerindus, Econômico, Banco da Lavoura, Nacional e outros, sendo que hoje a maioria já desapareceu.

O movimento sindical bancário no Acre nasceu na década de 1980

CAPA  REVISTA DOS BANCARIOSO movimento sindical bancário acreano teve início nos primeiros anos da década de 1980, precisamente em 1984, período chamado de redemocratização do país.

Neste cenário propício a uma nova ordem política e social no país nascia na capital acreana uma nova categoria com representatividade sindical. Sob à liderança de Maria José Dantas Muniz (Zeza) nascia em 1984 a Associação dos Bancários do Acre. Três anos depois, a entidade passou a ganhar representatividade política com a criação do Sindicato da categoria. O ex-deputado estadual Sérgio Taboada, então filiado ao PC do B, foi o primeiro presidente. A defesa intransigente a categoria durante uma paralisação no extinto Banacre rendeu até mesmo a prisão do sindicalista. Maria Antônia, João Roberto Braña, Perpetua Almeida, Mário Evangelista, Edjane Batista, Elmira Farias presidiram também a entidade. O atual presidente é Edmar Batistela, funcionário do HSBC.

Para o presidente Edmar Batistela, o legado construído pelo movimento sindical dos bancários, desde década 1930, trouxe muitos avanços significativos para a categoria. Hoje, os trabalhadores contam com uma convenção coletiva de trabalho (CCT) válida para os bancários de todo o território nacional. O dirigente destaca que, além disso, os bancários contam com outros benefícios sociais importantes como vale refeição/alimentação, plano de saúde/odontológico, auxilio creche para os filhos até sete anos e entre outros, isso sem falar da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) das empresas. Porém, esse legado de conquista foi à custa de muita luta e organização dos trabalhadores.

Bancários e Fenaban negociam nesta segunda-feira

o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban realizam nesta segunda-feira (29) a quarta rodada de negociação.
o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban realizam nesta segunda-feira (29) a quarta rodada de negociação.

Em campanha salarial, o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban realizam nesta segunda-feira (29) a quarta rodada de negociação a partir das 10h, em São Paulo. A Federação Nacional dos Bancos se comprometeu a apresentar uma proposta global às reivindicações da categoria, entregues em 9 de agosto. Na última reunião, no dia 24, os banqueiros frustraram a negociação, não avançaram nos debates e ainda jogaram para os bancários a responsabilidade pelo alto índice de demissões e inúmeros problemas que os funcionários enfrentam no ambiente de trabalho.

Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários, alerta que a categoria não aceitará retrocessos

FIQUE SABENDO

Bancos fecham 7.897 postos
de trabalho nos primeiros
sete meses de 2016

O lucro dos cinco maiores bancos do país
(Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa)
no primeiro semestre de 2016 chegou a R$ 29,7 bilhões.

Memórias de um bancário

PAULO MAIA - 3Hoje funcionário aposentado da Petrobras, Paulo Maia Sobrinho, 63 anos, trabalhou por mais de dez anos na agência do Banco Real, antes chamado de Banco da Lavoura. Maia entraria nas fileiras do extinto banco privado em 1974, na função de escriturário, mas galgando as funções de caixa, tesoureiro, chefe de carteira, gerente operacional e comercial.
Numa tarde do mês de julho, a convite do Sindicato dos Bancários do Acre, Maia fez uma visita ao Departamento de Imprensa. Falou por quase uma hora da época em que exerceu a função de bancário. Maia lembrou que em 1974, data da entrada no banco, 53 funcionários (12 caixas) dividia um pequeno espaço localizado no centro de Rio Branco para atender diariamente centenas de clientes, tudo de forma bem manual.

Na parte da organização dos trabalhadores, Maia explicou que praticamente não existia uma resistência aos patrões por parte da categoria, assim imperando os baixos reajustes e ausências de conquistas aos trabalhadores. “Vivíamos um momento de repressão a organização dos trabalhadores”, lembrou ele. Na sua época de bancário, Maia conheceria a esposa Eliete Viana, também bancária da mesma instituição e já falecida, de cujo relacionamento nascia os filhos Paulo Felipe e Paulo Roberto. O segundo, bancário do Banco da Amazônia. Na instituição, nosso personagem trabalharia ainda nas cidades de Belém (PA), Manaus (AM), Jaru (RO) e São Bernardo (SP).

Com a saída do banco, em 1984, após não aceitar uma nova transferência da cidade de Rio Branco para outro estado, Paulo Maia ficou pouco tempo desempregado, pois foi aprovado em concurso público da Petrobras, onde acabaria aposentando-se.

Um bancário que acabou virando palhaço

Na década de 1980, o Palhaço Rufino, então funcionário do Bradesco, participou ativamente das paralisações. Foto/Manoel Façanha
Na década de 1980, o Palhaço Rufino, então funcionário do Bradesco, hoje residindo no Rio de Janeiro, participou ativamente das paralisações coordenadas pelo Sindicato dos Bancários do Acre. Foto/Manoel Façanha

No período de transição pós-ditadura militar, precisamente em meados dos anos de 1980, o Brasil enfrentou inúmeras greves de trabalhadores. Numa delas, ocorrida na cidade de Rio Branco, a categoria bancária, cansada da política de arrocho salarial, foi às ruas reivindicar melhores salários e condições de trabalho.

Um dos personagens do ato corajoso à época de repressão era o então bancário Rogerio Rufino, hoje conhecido no meio da cultura acreana, pelo apelido de Palhaço Rufino. Nesta semana, após emprestar seu talento no lançamento da campanha salarial dos bancários, ele lembrou da histórica greve, movimento então encabeçado pelo ex-deputado comunista Sérgio Taboada (Banco do Brasil) e a hoje professora universitária Maria José Dantas Muniz (Banacre), ambos da direção da extinta Associação dos Bancários do Acre.

Neste episódio, Rufino, então funcionário do Bradesco, participou ativamente das paralisações, inclusive fazendo parte do comando de greve. No retorno ao trabalho, após uma greve vitoriosa, não foi demitido por força do recém-acordo coletivo assinado entre patrões e empregados, lembra ele.

A saída do Bradesco não custou muito. Rufino, um apaixonado pela arte de interpretar, e um amigo, foram convidados a participar de um festival de teatro fora do Estado.

“Era uma grande oportunidade na época, não podia perder e, então, resolvi convencer o meu chefe que precisava realizar uma operação no joelho”.

Uma semana depois, após ficar entre os três melhores atores do festival, ele retornou ao trabalho. No fim do dia, foi chamado pelo chefe.

“Rapaz, sentei na cadeira e ele foi logo perguntando sobre a operação do joelho. Respondi que não foi preciso operar. Com cara de poucos amigos, ele puxou um jornal local e fez a seguinte pergunta: porque você não foi o melhor ator do festival? Respondi sem piscar: era porque tinha dois caras melhores que eu, chefe! Furioso, ele mandou eu passar no setor pessoal para assinar o meu 29 (código de demissão)”, lembrou Rogério Rufino sem nenhum arrependimento.

Matéria publicada no jornal Opinião deste domingo (28/08/2016).
Matéria especial alusiva ao Dia do Bancário escrita pelo jornalista e diretor de imprensa do Sindicato dos Bancários do Acre, Manoel Façanha, e publicada na edição deste domingo, 28 de agosto de 2016, nas páginas 8 e 9 do jornal Opinião.