De janeiro a dezembro de 2016 foram fechados 20.553 postos de trabalho nos bancos brasileiros, sendo a maioria em São Paulo e no Rio de Janeiro, de acordo com a Pesquisa de Emprego Bancário (PEB), divulgada pela Contraf-CUT, nesta quinta-feira (26). O número superou amplamente o corte em 2015, que foi de 9.886 empregos. Representando um aumento de 107,9%. Ou seja, o corte de empregos nos bancos mais que dobrou no período.
O estudo em parceria com o Dieese, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, também chama a atenção para saldo negativo de postos de trabalho em dezembro de 2016, que chegou a 9.028 e pode estar relacionado aos desligamentos ocasionados pelo plano de reestruturação e de aposentadorias incentivadas adotados pelo Banco do Brasil.
Os trabalhadores mais velhos e com mais tempo no emprego foram os mais afetados. A análise por setor de atividade econômica mostra que os bancos múltiplos, com carteira comercial, que incluem grandes instituições como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil foram os principais responsáveis pelo saldo negativo. Juntos, cortaram 18.434 postos de trabalho (93% do total).
O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, critica a falta de responsabilidade social dos bancos com o emprego dos trabalhadores, principalmente neste momento de instabilidade política, social e econômica no país.
“No ano de 2015, abrimos negociações banco a banco para combater e achar alternativas para a redução de postos de trabalho, uma vez que os nossos sindicatos captaram uma ampliação do número de demissões. Os bancos negaram estarem demitindo, mas foram desmentidos pela nossa pesquisa conjunta com o Dieese. Cortaram quase dez mil empregos em plena crise política que se transformava em uma crise econômica”, destaca Roberto von der Osten, ao comentar, também, o grande corte de empregos em todo o ano passado.
“Em 2016, a redução foi muito maior e agora os bancos admitem estar se ajustando tanto à crise quanto ao novo cenário digital em que os bancos querem operar. Sem dúvida, um dos grandes desafios do movimento sindical é defender os empregos. Ao lado disto, lutar pela qualidade dos empregos, já que direitos estão sendo ameaçados, e lutar contra a flexibilização defendida pela elite empresarial brasileira como medida geradora de emprego. Nesta balela os bancários não caem”, alerta o presidente da Contraf-CUT.
Números estaduais
Nenhum estado registrou saldo positivo no emprego bancário no período. São Paulo foi o estado onde ocorreram mais cortes (-7.842 postos, 38% do total de postos fechados), seguido pelo Rio de Janeiro, que fechou 2.373 postos, Minas Gerais, com 1.655 postos extintos e Paraná, que fechou 1.441 postos.
Banco do Brasil
Do total dos desligamentos ocorridos nos bancos, metade foi sem justa causa, perfazendo 20.566 desligamentos. Os desligamentos a pedido do trabalhador somaram 16.961 e representaram 41,6% do total. O elevado percentual de desligamentos a pedido deve estar relacionado à implementação do plano de reestruturação do Banco do Brasil e de incentivo à aposentadoria no banco. Números extremamente negativos para categoria bancária, já que o BB não pretende repor as vagas.
“O Banco do Brasil realmente contribui para este número, considerando que desde o momento em que anunciou a reestruturação, foram cortadas 9.400 vagas, empregos que não serão repostos. A estatística ficou em 2016, mas o grande problema está agora em 2017. Além de reduzir o número de empregados, piora as condições de trabalho para quem ficou. O que pode agravar adoecimentos e afastamentos por conta da sobrecarga de trabalho”, afirma Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB.
“A justificativa do Banco do Brasil não difere de boa parte do sistema financeiro, ao alegar que as novas tecnologias tendem a diminuir o número de contratações. A argumentação não é correta, já que o BB já vinha investimento em seu parque tecnológico nos últimos anos e mesmo assim com uma política expansionista de mercado, construindo novas agências e incorporando outros bancos, como Nossa Caixa e Banco Patagônia, na Argentina”, lembra Carlos de Souza, secretário-geral da Contraf-CUT.
“A questão real é uma mudança de governo. Um governo golpista, que tem uma relação muito próxima, de compromisso com o sistema privado, como o Itaú, grande concorrente do Banco do Brasil, nos últimos anos. Sabemos que estes bancos financiaram o golpe e agora estão cobrando o financiamento”, completa o dirigente sindical.
Desigualdade entre homens e mulheres
As 9.992 mulheres admitidas nos bancos, de janeiro a dezembro de 2016 receberam, em média, R$ 3.187,18. Esse valor correspondeu a 71,6% da remuneração média dos 10.243 homens contratados no mesmo período, que foi de R$ 4.450,40.
No momento do desligamento também se observou diferença na remuneração entre homens e mulheres. As 19.927 mulheres que tiveram o vínculo de emprego rompido nos bancos no período recebiam, em média, R$ 5.902,45, enquanto os homens desligados dos bancos, recebiam R$ 8.118,63.
Faixa Etária
Os bancários admitidos concentraram-se na faixa etária até 24 anos de idade, com saldo positivo de emprego nessa faixa de 7.816 postos. Já os desligamentos se concentraram nas faixas etárias superiores a 25 anos e, especialmente, na de 50 a 64 anos, que registrou um saldo negativo de 14.763 postos de trabalho (37,2% do total de postos fechados).
Tempo no Emprego
Entre os 40.788 desligados, a maior parte tinha 120 meses ou mais anos no emprego (12.988 cortes que correspondem a 31,9% do total). Outros 9.647 desligados tinham entre 60 e 119,9 meses no emprego (23,7%). Ou seja, observa-se que o corte dos postos nos bancos se deu principalmente entre aqueles com maior tempo de casa, sendo compatível com o fato de serem os trabalhadores mais velhos.
Fonte: Contraf-CUT