São Paulo – Em bom “economês”, o gráfico que retrata lucro dos bancos e empregos desenharia a famosa “boca de jacaré”. Na mandíbula superior, o que o setor ganha ano a ano. Na inferior, os empregos, abocanhados pela ganância de quem ganha tanto, mas mesmo assim demite para lucrar ainda mais.
Entre 2012 e 2014, por exemplo, somente o lucro dos sete principais bancos em operação no Brasil (BB, Caixa, Itaú, Bradesco, Santander, HSBC e Safra) cresceu 18%, indo de R$ 52 bilhões para R$ 62 bilhões (dados dos balanços). Mas de janeiro de 2012 até junho de 2015, o setor (exceto a Caixa que contratou nesse período) cortou 22.136 empregos (dados do Caged).
Não bastasse isso, a rotatividade resultou em dispensados com salários mais altos e admitidos ganhando em média 42% menos.
Em qualquer cenário os bancos demitem e ganham muito com isso. Quando compram ou se fundem a outros, quando terceirizam, ou com os avanços tecnológicos.
Balanços divulgados no primeiro semestre do BB, Itaú, Bradesco e Santander dão conta de R$ 29,8 bi de lucro e fechamento de 5.254 postos. Esses foram alguns dos números apresentados pelo Comando Nacional dos Bancários à federação dos bancos (Fenaban) na primeira rodada de negociação da Campanha Nacional Unificada 2015. A reunião tomou toda a quarta-feira 19, em São Paulo.
“Emprego é nossa prioridade. Deixamos claro para os bancos que queremos garantir os postos de trabalho nas fusões desse setor que é um dos que mais ganha na economia nacional”, relata a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, uma das coordenadoras do Comando. “Exigimos respeito à jornada de seis horas e cobramos que cumpram seu papel de concessão pública: contratando mais bancários para atender bem e de forma segura a toda a população. Não barrando alguns e recebendo somente os que lhes interessam financeiramente, em agências de negócios em que os trabalhadores vão sendo trocados por máquinas”, critica a dirigente.
Nem tanto – A resposta dos bancos repetiu postura de anos anteriores. Negam a realidade dos locais de trabalho e os dados apresentados pelo Comando Nacional (com base nos balanços dos próprios bancos e do Ministério do Trabalho), dizendo que não há muitas demissões no setor. Diante da evidente falta de profissionais, em agências que chegam a ter apenas dois funcionários, obrigam os clientes a fazer o trabalho bancário por meio da tecnologia.
“Tecnologia tem de ser bom para todos, não só para banco ganhar sem devolver nada para a sociedade e ainda gerar legiões de desempregados”, reforça a presidenta do Sindicato. “Queremos avançar na questão do respeito aos empregos na Campanha 2015 e da contratação de mais bancários para melhorar as condições de trabalho e atendimento. Não tem porque um setor que ganha tanto terceirizar, usar a rotatividade, a tecnologia para demitir e reduzir custo.” Os bancos estão entre os setores que mais apoiam o PL da Terceização, que tramita no Congresso Nacional.
O Comando também questionou o aumento de demissões por justa causa e os bancos ficaram de verificar a denúncia.
Sobre a reivindicação de ampliação do abono-assiduidade para cinco dias, os integrantes da Fenaban disseram que há pouca possibilidade de avançar.
Nesta quinta, às 20h, tem MB com a Presidenta. Juvandia vai falar da rodada que tratou de emprego e dos próximos passos da Campanha 2015.
Não tem perdão – Mais empregos é uma das reivindicações dos bancários que reflete bem o mote da Campanha 2015: Exploração não tem perdão. Para debater com os trabalhadores e denunciar a postura dos bancos à sociedade, as “caveiras”, símbolo da exploração, estarão na Paulista, na manhã de quinta 20, e na Cidade de Deus, em Osasco, na manhã de sexta 21.
Fonte: SPBancários.