A greve nacional dos bancários entrou em sua terceira semana nesta segunda-feira 19, quando completou 14 dias, com o maior índice de adesão da categoria a uma paralisação desde o início da década de 1990. Foram fechados em todo o país 12.496 agências e 40 centros administrativos, um crescimento de 98,8% em relação ao primeiro dia. Nas bases dos 12 sindicatos filiados à Federação Centro Norte (Fetec-CUT/CN), estão paralisadas 1.384 agências, o que significa 49,3% a mais que no dia 6 de outubro, quando a greve nacional foi deflagrada.
Os bancários conquistaram em 1992, com grandes mobilizações e greves, a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que garante os mesmos salários e os mesmos direitos para todos os trabalhadores do sistema financeiro nacional, de bancos públicos e privados, em todas as regiões do país.
As conquistas que vinham sendo acumuladas desde a redemocratização do Brasil, em meados da década de 1980, passaram a correr sérios riscos durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, quando foram implementadas políticas econômicas neoliberais, coincidindo com uma reestruturação produtiva do sistema financeiro, que reduziu a categoria bancária a menos da metade (de aproximadamente 900 mil em 1990 a 400 mil em 2002) e ampliou as terceirizações.
Por que esta é a maior greve
Durante todo esse período, os bancários e suas entidades sindicais travaram uma verdadeira guerra de resistência para não perder direitos. Os reajustes salariais nos bancos privados contemplavam no máximo a inflação, ficando muitas vezes abaixo. E nos bancos públicos federais, além de uma grande redução do número de bancários, foram oito anos de reajuste salarial praticamente zero – e sem PLR. Nesse cenário desfavorável, não houve greve da categoria no período.
Os bancários voltaram a fazer grandes mobilizações a partir de 2003, com a posse do primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde 2004, com greves cada vez maiores, todos os anos a categoria conquistou aumentos reais de salários e outros avanços sociais e políticos. Nesses últimos 11 anos, os bancários tiveram 20,7% de ganho real no salário e 42,1% no piso salarial, além de conquistas no campo da saúde e das condições de trabalho (inclusive no combate ao assédio moral), da segurança e da igualdade de oportunidades.
O maior índice de adesão dos bancários a uma greve, nesse período, havia sido até agora em 2013, quando a categoria fez uma paralisação de 23 dias, fechando 12.140 agências no último dia e conquistando aumento real de 1,82% sobre os salários e demais verbas de 2,29% acima da inflação sobre o piso salarial. Nesta segunda-feira 19, os bancários já ultrapassaram esse recorde de paralisação de 2013.
Só para efeito comparativo, no 14º dia da greve de 2013, foram paralisadas 11.156 agências. No ano passado, a greve nacional durou apenas três dias e os bancários arrancaram 2,02% de aumento real (2,49% no piso).
Bancários não aceitam retroceder à época de arrocho salarial
“Essa já é, portanto, a maior greve da categoria bancária das últimas duas décadas. E continua crescendo a cada dia. Os bancários estão demonstrando sua indignação com os bancos, que têm no Brasil os maiores lucros e a mais alta rentabilidade do sistema financeiro mundial, pagam salários milionários a seus executivos e desrespeitam os trabalhadores que produzem esses resultados”, afirma José Avelino, presidente da Fetec-CUT/CN e integrante do Comando Nacional dos Bancários.
A greve foi deflagrada no dia 6 de outubro porque os bancos, em cinco rodadas de negociações, propuseram reajuste de 5,5% (o que é 4% abaixo da inflação) e ignoraram totalmente as reivindicações sobre emprego, saúde e condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades.
“A estratégia dos banqueiros este ano é muito clara. Eles querem acabar com os aumentos reais e retroceder à política da década de 90, com arrocho salarial e retirada de direitos dos trabalhadores. Mas o recado dos trabalhadores também é claro. A greve continuará crescendo enquanto não houver aumento real e uma nova proposta que contemple proteção do emprego, melhores condições de trabalho, mais saúde e segurança e igualdade de oportunidades”, adverte Avelino.
Fonte: Fetec-CUT/CN