Subiu para 7.282 o número de agências e centros administrativos de bancos públicos e privados fechados nesta sexta-feira 20, segundo dia da greve nacional dos bancários, conforme balanço realizado pela Contraf-CUT com base nos dados enviados até as 18h pelos 143 sindicatos que integram o Comando Nacional da categoria. Os bancários pararam até o Centro Administrativo do Bradesco, na Cidade de Deus, em Osasco. Foi um crescimento de 18,5% na greve em relação à quinta-feira, quando 6.145 unidades haviam sido fechadas.
“O movimento está se ampliando rapidamente no Brasil todo, o que demonstra a insatisfação dos bancários com a postura intransigente dos bancos. Os trabalhadores aumentaram a produtividade, contribuindo para que as empresas tivessem lucros recordes – somente as seis maiores instituições lucraram R$ 29,6 bilhões no primeiro semestre – e a maior rentabilidade do sistema financeiro mundial, mas os banqueiros ignoram as nossas reivindicações”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.
Os bancários querem 11,93% de reajuste (inflação mais 5% de aumento real), valorização do piso salarial, PLR maior, mais empregos e fim da rotatividade, melhores condições de saúde e trabalho, mais segurança nas agências e igualdade de oportunidades. Eles aprovaram a greve por tempo indeterminado nas assembleias realizadas em todo o país no dia 12, depois de quatro rodadas duplas de negociação com a Fenaban. Os bancos apresentaram a única proposta no dia 5 de setembro, com reajuste de 6,1% (que apenas repõe a inflação), rejeitada pelos bancários em assembleias em todo o país.
“Os bancos disseram na mesa de negociação que não pretendem conceder aumento real. Mas como é que pode se, segundo o Dieese, 84,5% dos acordos salariais feitos este ano no Brasil têm aumento real de salário, e os bancos, o setor que mais lucra, se recusarem a acompanhar essa tendência?”, questiona Carlos Cordeiro.
Desconcentrar a renda
Para o presidente da Contraf-CUT, lutar por aumento real de salário é combater a concentração de renda no país. “Apesar de ser a sexta maior economia do planeta, o Brasil ocupa ainda o vergonhoso 12º lugar no ranking dos países mais desiguais do mundo. E no sistema financeiro a concentração de renda é ainda maior”, ressalta.
Estudo do Dieese com base no Relatório Social da Febraban mostra que a distribuição do valor adicionado nos bancos entre acionistas, governo (impostos) e trabalhadores vem se alterando, aumentando a fatia do capital e reduzindo a participação do trabalho.
A concentração de renda pode ainda ser medida por outro ângulo. Segundo trabalho do Dieese com base no Censo de 2010, os 10% mais ricos no Brasil têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha durante 3,3 anos para chegar à renda média mensal de um integrante do grupo mais rico.
No sistema financeiro a concentração é ainda maior. No Itaú, por exemplo, os executivos da diretoria recebem em média R$ 9,05 milhões por ano, o que representa 191,82 vezes o que ganha o bancário do piso. No Santander, os diretores embolsam R$ 5,6 milhões, o que significa 119,25 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que paga R$ 5 milhões anuais a seus executivos, a diferença é de 106,09 vezes.
Ou seja, para ganhar a remuneração mensal de um executivo, o caixa do Itaú tem que trabalhar 16 anos, o do Santander 10 anos e o caixa do Bradesco 9 anos.
As reivindicações gerais dos bancários
> Reajuste salarial de 11,93% (5% de aumento real além da inflação)
> PLR: três salários mais R$ 5.553,15.
> Piso: R$ 2.860,21 (salário mínimo do Dieese).
> Auxílios alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá: R$ 678 ao mês para cada (salário mínimo nacional).
> Melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral que adoece os bancários.
> Emprego: fim das demissões, mais contratações, aumento da inclusão bancária, combate às terceirizações, especialmente ao PL 4330 que precariza as condições de trabalho, além da aplicação da Convenção 158 da OIT, que proíbe as dispensas imotivadas.
> Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) para todos os bancários.
> Auxílio-educação: pagamento para graduação e pós-graduação.
> Prevenção contra assaltos e sequestros, com o fim da guarda das chaves de cofres e agências por bancários.
> Igualdade de oportunidades para bancários e bancárias, com a contratação de pelo menos 20% de negros e negras.