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Apesar dos lucros bilionários, bancos nada propõem sobre remuneração

A exemplo das rodadas anteriores, os bancos não apresentaram nesta segunda-feira 26 nenhuma proposta para as reivindicações sobre remuneração apresentadas pelo Comando Nacional dos Bancários, entre elas aumento real de salário, valorização do piso, Plano de Cargos e Salários (PCS), adiantamento do 13º, salário do substituto e vale-cultura. A discussão sobre remuneração prossegue nesta terça 27, às 9h30, incluindo a PLR e os auxílios refeição, creche, cesta alimentação e educacional.

LOGO CAMPANHA SALARIAL
O Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, abriu a terceira rodada de negociações, relatando os casos da morte de um bancário e uma vigilante durante assalto ao posto do Santander em Angra dos Reis (RJ) e o ataque a agência do Bradesco em Campo Grande. E reivindicou que os problemas com falta de segurança sejam solucionados ainda nessa campanha.
Em seguida o Comando Nacional cobrou resposta para as reivindicações feitas nas rodadas anteriores sobre saúde, condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades. Mas os negociadores da Fenaban ficaram em silêncio.
Ao entrar no tema de remuneração, o Comando Nacional primeiro fez uma rápida análise de conjuntura do sistema financeiro, apresentando dados e fazendo avaliação sobre os lucros crescentes do sistema financeiro, a rentabilidade, a evolução do emprego e dos salários e a concentração de renda no setor, que é ainda maior que no resto da sociedade.
“Os seis maiores bancos tiveram lucro líquido de R$ 29,6 bilhões no primeiro semestre. Eles têm a maior rentabilidade do sistema financeiro mundial, mas fecham postos de trabalho e reduzem a média salarial da categoria com o mecanismo perverso da rotatividade, apesar do aumento da produtividade dos bancários”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. “Por isso os trabalhadores exigem remuneração decente, que passa por aumento real de salário, valorização do piso e melhoria da PLR”.

Produtividade cresce e salário médio cai


O Comando Nacional apresentou estudo do Dieese feito a partir dos balanços dos bancos mostrando que, enquanto o número de bancários por agência diminuiu 5% (de 24,15 para 22,95) entre junho de 2012 e junho de 2013, em razão do enxugamento de postos de trabalho, no mesmo período o lucro líquido por bancário aumentou 19,4%, a carteira de crédito por empregado cresceu 19,8% e o número de conta-corrente por trabalhador passou de 285 para 304 (crescimento de 6,9%).

Mas apesar do aumento da produtividade e dos ganhos reais da categoria com mobilizações e greves, que entre 2004 e 2011 foi de 13,94% no salário e 31,70% no piso, a remuneração média (salário mais verbas fixas) dos bancários diminuiu nesse período. Segundo dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego, a remuneração média da categoria em 2004, deflacionado pelo INPC, era de R$ 4.817,12 . Em 2011 (último ano disponível pela Rais), o valor médio salarial do bancário caiu para R$ 4.743,59 – uma redução de 1,5% no poder de compra dos salários.
“Esse é o principal efeito nocivo da rotatividade nos bancos”, acusa Carlos Cordeiro.

A luta é para desconcentrar renda

Para o presidente da Contraf-CUT, lutar por aumento de salário é combater a concentração de renda no país. “Apesar de ser a sexta maior economia do planeta, o Brasil ocupa ainda o vergonhoso 12º lugar no ranking dos países mais desiguais do mundo. E no sistema financeiro a concentração de renda é ainda maior”, ressalta o presidente da Contraf-CUT.
O Comando Nacional também apresentou aos representantes dos banqueiros estudo do Dieese com base no Relatório Social da Febraban mostrando que a distribuição do valor adicionado nos bancos entre acionistas, governo e trabalhadores vem se alterando desde 1999, aumentando a fatia do capital e reduzindo a participação do trabalho. Veja aqui o estudo comparativo.
A concentração de renda pode ainda ser medida por outro ângulo. Segundo trabalho do Dieese com base no Censo de 2010, os 10% mais ricos no país têm renda média mensal 39 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha durante 3,3 anos para chegar à renda média mensal de um integrante do grupo mais rico.
No sistema financeiro a concentração é ainda maior. No Itaú, por exemplo, os executivos da diretoria recebem em média R$ 9,05 milhões por ano, o que representa 234,27 vezes o que ganha o bancário do piso. No Santander, os diretores embolsam R$ 5,6 milhões, o que significa 145,64 vezes o salário do caixa. E no Bradesco, que paga R$ 5 milhões anuais a seus executivos, a diferença é de 129,57 vezes.
Ou seja, para ganhar a remuneração mensal de um executivo, o caixa do Itaú tem que trabalhar 16 anos e o caixa do Bradesco 9 anos.
Os bancos questionaram os dados apresentados pelo Comando Nacional. Disseram, por exemplo, que a produtividade cresce por causa das novas tecnologias e não em razão do aumento do trabalho bancário. Os dirigentes sindicais retrucaram que os dados são fornecidos pelos próprios bancos ao Caged do Ministério do Trabalho e Emprego, reclamando da falta de transparência das instituições financeiras. Foi definido fazer uma reunião com técnicos do Dieese e dos bancos para discutir os dados até a próxima semana.

Reajuste de 11,93% e piso do Dieese

Os representantes dos bancários defenderam o reajuste de 11,93%, que inclui a inflação do período mais 5% de aumento real, argumentando sobre a importância de recompor o poder de compra do salário e valorizar o piso salarial, conforme o salário mínimo do Dieese (R$ 2.860,21), diante dos lucros crescentes dos bancos e do aumento da produtividade. “Dissemos que essa é a prioridade das prioridades”, destaca Carlos Cordeiro.
Os negociadores da Fenaban primeiro disseram que o reajuste sobre o piso esse ano será o mesmo que sobre as demais verbas, mas diante da argumentação do Comando afirmaram que levarão a demanda para os bancos.

PCS
A reivindicação dos bancários é que as empresas tenham critérios objetivos e transparentes para a ascensão profissional, o que inclui reajuste anual de 1% todas as verbas de natureza salarial e a partir do quinto ano completo de serviço o reajuste será de 2%.
Os bancários também reivindicam dos bancos a movimentação horizontal e/ou vertical de pelo menos um nível na tabela salarial a cada cinco anos na mesma função. E para os cargos das carreiras administrativas, operacional e técnica querem que o preenchimento seja feito por meio de seleção interna.
Os representantes da Fenaban disseram que a reivindicação é uma maneira disfarçada de pedir anuênio e não querem discutir PCS, afirmando que isso é “interferência insuportável” para os bancos. Entretanto, as instituições públicas têm planos de cargos de salários.
Em relação ao adiantamento do 13º salário, os negociadores dos bancos assumiram o compromisso de consultar os patrões.

Salário do substituto


A reivindicação é que nas substituições, mesmo em caráter provisório, seja garantido ao substituto o mesmo salário do substituído. Os representantes patronais rejeitaram a demanda, afirmando ser justo que o bancário trabalhe substituindo chefias porque assim está sendo avaliado para futuras promoções.

Vale-cultura

O objetivo é incentivar a diversidade cultural, conforme prevê a Lei 12.761/2012, exigindo que os bancos concedam todo mês aos trabalhadores um vale-cultura de R$ 100,00 para compra de ingressos para peças teatrais, cinema, shows, musicais, bem como para outros espetáculos artísticos.
Eles disseram não ter posição ainda sobre o tema, que é preciso aguardar a regulamentação da lei, mas que levarão a proposta aos banqueiros e depois voltarão a discutir a proposta.

PLR e auxílios
A terceira rodada de negociações prossegue nesta terça-feira, discutindo as demais reivindicações sobre remuneração, incluindo PLR, auxílio-refeição, cesta-alimentação e 13ª cesta-alimentação, auxílio-creche/babá e auxílio educacional.

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